terça-feira, dezembro 13, 2005

Sei lá


Hoje, em meio a mais uma leitura, não sei porque lembrei de você. Foi uma dessas recordações rápidas de quase três segundos na qual me veio à memória sua imagem, agora já meio embaçada pelo tempo, mas ainda visível.
E em meio a uma linha e outra eu parei para pensar em você e refletir um pouco sobre o que fomos nós dois e no final constatei que fomos quase oito semanas de um sei lá o que. Eu apenas passei com você e não fiquei. Não fiquei porque não tive vontade de ficar. Seu jeito de entrar na minha vida foi tão atípico que quando me dei conta já estávamos juntos, sem eu nem ter tido tempo de dizer que não estava afim.
De repente estávamos de mão dadas, mas sem nenhuma afinidade, nem gostos, nem conversas em comum, muitas vezes sem ter até mesmo o que falar, suprimindo o silêncio com beijos, como se isso fosse o suficiente para preencher a lacuna que existia entre nossas personalidades.
Lembro-me muitas vezes de olhar para você e me perguntar o que eu estava fazendo e o que fazia aquele homem, pelo qual eu não sentia nada, parado na minha frente, sorrindo pra mim, sendo tão adorável, enquanto eu, do meu lado, achando que nada sobrava e que, ao mesmo tempo, tudo faltava.
E aí eu resolvi sair da sua vida, assim, como você entrou na minha, sem mais nem menos, só que de uma maneira fria, seca, indiferente. Recordo apenas de ter olhado pra você e ter dito adeus, como quem se despede de um motorista do táxi ou de um vendedor de loja que nunca viu. Também não olhei para trás para ver você indo embora da mesma maneira que chegou, sem nada. Chegou sem nada e saiu com menos ainda, e de quebra levou o coração partido.
Você que veio com tanto para me oferecer saiu sem nunca ter ouvido sequer um "senti a sua falta". Justo você, que disse que me amava num tom tão sincero e que nem mesmo assim conseguiu arranhar a minha estrutura. Você que tanto bem me quis e agora não passa de uma lembrança de quase três segundos em meio a uma leitura pouco estimulante. Só isso. Você que nunca teve da minha parte uma palavra de afeto, nem uma linha torta deste blog ou de qualquer outro escrito meu. Você que não me deixou de lembrança nem uma foto ou uma música ou um filme, uma comida ou um lugar, nada.
E agora me vem esse livro sem graça desenterrar você momentaneamente para logo em seguida ser jogado outra vez no parque do esquecimento, e tudo sem remorso. Tudo assim, sem mais nem menos, como sempre foi.