terça-feira, novembro 22, 2005

Mulher super poderosa


Ainda recordava os instantes passados como obra de grande valor. Lembrava com certo orgulho das suas palavras, da sua honra defendida tão gloriosamente. Felicitava-se por sua coragem. Remoía as expressões usadas, o tom da voz, as feições endurecidas. Tinha um certo prazer nessas recordações. Já pensava no que diria da próxima vez. Seria mais enérgica, implacável. Ameaçaria, destruiria, amaldiçoaria. Perdeu-se nesse exercício mental bons minutos da sua manhã de segunda-feira.
Ainda orgulhosa de si mesma, já preparava o discurso para a nova empreitada, que não tardou a acontecer. Só que dessa vez o tom e a energia das palavras foram amenizadas pela voz suave e compreensiva do outro lado da linha, mas não o suficiente para aplacar sua ira previamente decorada.
Quando acabou estava outra vez orgulhosa de si. Não dizia nada a ninguém. Saboreava sozinha aquele seu momento sublime de mulher super poderosa, que nada teme e que sabe se impor. Era assim, um mulher bem resolvida. Sabia lidar com os perigos, mesmo que eles estivessem a quilômetros de distância. Não importa, o que vale é que ela não se dobra.
E foi começar o dia imperiosa após o duelo telefônico travado nas primeiras horas da manhã. Era uma dona de casa, usava roupas surradas, mas não se enganem, pois ela sabe fazer do seu rolo de macarrão uma arma letal.