sexta-feira, novembro 18, 2005

Everybody say I love you


Da janela do quarto olhava para o lado de fora, tudo ainda calmo, sonolento. Era manhã e pela janela via-se bem as ruas, mas seu pensamento estava mergulhado em si, engolido, entranhado, vagando por suas lembranças, refletindo, gostando, sonhando.
Analisava-se como outra pessoa. Ainda há pouco andava tão grave e sisuda como somente a tristeza consegue ser e tão absorta quanto pede a seriedade. Era séria porque os percalços da vida são sérios. Mas agora não mais, estava tranqüila, serena. Vinha feliz, uma felicidade reconquistada a custa de minutos contados no tempo.
Virou-se para dentro e observou o corpo esticado em cima da cama ainda em repouso. Olhou, meditou e sorriu uma vez mais. Chegou perto para ver se dormia mesmo. Constatou que sim; dormia profundamente.
Ficou imóvel e contemplativa ainda durante alguns instantes a pensar em todo o passado como algo muito além da lembrança. "Como eu te amei!".
Corrigiu. Achou a frase muito pretérita. Correu para transformá-la em presente "Com eu te amo".
E ama mesmo. Ama com todas as letras que compõe e decoram a palavra amor. Ama conjugado, analítico e incondicionalmente. Ama apenas por amar, assim como os verbos intransitivos que se bastam. Ama intransitivamente. Ama sem pedir o troco, ama sem ter respaldo, ama de mãos abertas e olhos fechado. Ama grande, profundo, complexo. Ama assim mesmo, como só a palavra amor consegue ser amada.
Lembrou do pedido na noite anterior. O pedido de permanência que o outro quase lhe implorava. Pedido desnecessário. Pedido que não teve resposta. E nem precisava. Afinal, ele nunca havia arredado um pé de dentro do seu coração. Ele nunca havia saído do seu lado, continuava com os pés colados nos seus. Então, para que pedir?! Bastava ficar. Já era de casa. Pensou que algumas coisas na vida são assim, meio incrédulas e nem se dão conta de que não precisam de uma resposta formal para serem aceitos, como aquele pedido disforme.
Saiu do quarto ainda com o riso a cortar-lhe o rosto, achando graça no mundo. Não fazia grandes reflexões, apenas ria, um riso grave e constante. Ria por ria, bem como amava por amar. Ria com o coração. Tomou seu café e foi encarar o mundo que agora parecia pequeno e pouco valente.
Pensou mais uma vez em si mesma e na sua felicidade. Lembrou do corpo esticado na cama "deixe ele repousar". E saiu a repetir a famosa frase do escritor que havia lido no dia anterior : Ao vencedor as batatas!

Caríssimo,
Desculpe o meu inglês macarrônico, mas é que não encontrei outra maneira de começar este post.