domingo, outubro 16, 2005

As curiosidades de Capitú


Descendo as escadas ouvi seu nome sendo pronunciado em bocas desconhecidas. Parei. Mesmo atrasada me deixei ficar; queira saber mais sobre você, qualquer informação é válida: onde você mora, com que freqüência sai com os amigos, seus gostos, o que você pensa.
Enfim, tudo é matéria à curiosidades sobre você. Tudo o que vem de você me aguça de uma forma que beira a obsessão. Há muito de exagero nisso, tenho que admitir, mas vale lembrar que estou me referindo à pessoa que fervilha meus hormônios e recheia minhas idéias pouco convencionais, logo esses desvarios são perfeitamente explicáveis.
Estou decidida a entrar na sua vida, nem que seja arrombando a porta, nem que seja pelos fundos, nem que seja na base da pancada. A mim não me importa o fato de não ter recebido o convite dourado para entrar nos seus domínios, tenho cinismo em doses homéricas para ignorar isso, para ignorar inclusive que não existe nem mesmo uma brecha por onde eu posso espiar o que acontece lá dentro.
Tenho que admitir que é mais um capricho do que qualquer outro sentimento. Sei que a partir do momento em que eu estiver entrado vou procurar uma maneira de escapulir, mas por enquanto fica a vontade de entrar.
Portanto, tudo tornou-se trilhas para chegar até você; seus amigos, e-mail, o número do telefone descoberto de maneira ilegal. Eu vasculho tudo, inescrupulosamente. Eu tento chamar a sua atenção, mesmo sabendo que você me ignora e que isso fere o meu orgulho e me irrita profundamente.
Você não faz idéia dos sentimentos negativos que invadem minha cabeça quando percebo suas atenções voltadas para terceiros; eu disfarço, viro a direção do olhar, mudo de assunto, mas você percebe, eu sei que percebe a minha tentativa de invasão, o meu cavalo de Tróia sendo construído na surdina, o meu exército se preparando para o ataque surpresa.
Eu durmo com você todas as noites, eu desejo você e isso grita no meu rosto como se um letreiro com seu nome escrito em letras garrafais estivesse piscando diante de ti. Apostei comigo mesma que faria parte da sua vida, independente do que eu tiver que fazer, os fins justificam os meios, lembra? E de maneira alguma eu posso pensar na possibilidade de perder essa aposta. Afinal como conseguiria me olhar no espelho sem perceber a marca da derrota nos meus cabelos.
Não meu querido, eu não jogo para perder. E você é a bola da vez, e eu tenho que marcar esse gol, mesmo que eu tenha que comprar o árbitro.