quarta-feira, setembro 07, 2005

A mulher da minha vida

Quando a vi pela primeira vez achei-a linda, linda. Ela, porém, estando na companhia de outra, não demonstrou muito interesse por mim, na realidade acredito que nem prestou atenção na minha presença, mesmo assim não conseguia não focar meus olhos nela, observei cada detalhe: as mãos, os pés, o nariz, a boca...
O tempo foi passando e fomos nos tornando bem mais íntimas, nosso contato tornou-se quase diário. Percebi que ela também já gostava da minha presença, passando a me oferecer seus mais belos sorrisos, alegrando-se quando eu lançava-lhe um olhar. A essa altura nossas conversas estavam cada vez mais freqüentes. Ela tinha um jeito todo especial de conversar comigo, fitava-me diretamente nos olhos e, vez por outra, olhava ao redor, curiosa que era de saber o que estava acontecendo.
Observei o quanto ela gostava de uma bagunça, quanto maior a desordem melhor. Ela era um ser do mundo e as coisas desse mundo a atraíam de forma violenta, mas ela propriamente dita não era desordeira, pelo contrário, emana uma tranqüilidade absurda para alguém da sua idade. Não reclama de nada, nunca está de mau-humor e onde chega consegue roubar a atenção de todos esbanjando simpatia aos quatro ventos.
É doce, meiga, encantadora, mas é decidida, sabe bem o que quer e destila seus veementes protestos quando algo lhe desagrada. Mas nada é capaz de tirar-lhe os ânimos.
Entretanto, apesar de todo o meu afeto demonstrado não consegui fazer com que ela tivesse olhos somente para mim. Ela tem outra a quem ela ama, incondicionalmente. Sim, eu tenho uma rival, só que não desisto de pegar uma carona no seu amor.
Um dia tomei coragem e carreguei-a para minha casa e ela foi, rindo, é claro, como era de costume quando percebia que estava fazendo alguma trela. Ofereci-lhe o sofá para que ficasse mais à vontade e ela tomou conta, não só dele, como da casa inteira.
Passamos, só eu e ela, uma tarde deliciosa, rimos, conversamos, nos apoiamos e então eu percebi que ela já é uma parte da minha vida. Uma parte arrancada de uma vez só, com um único corte. Uma parte que eu mesma fiz questão de entregar pessoalmente.
Hoje, no auge dos seus quase oito meses de vida, a minha lindinha, como carinhosamente a chamo, se esparramou no meu coração e fez de brinquedo o meu bom senso. A ela nada consigo negar, pois basta que ela me lance um daqueles seus olhares suplicantes para derreter a mais grossa camada polar do meu coração.
Ela é a rainha de muitos reinos, mesmo que sejam fictícios. Ninguém ousa perturbar-lhe o sono, negar uma guloseima, um carinho. Todos disputam seus abraços, sua pele branquinha, suas pequeninas mãos de dedinhos suaves que me fazem brincar e dizer-lhe que ela será uma linda artista plástica, a melhor e mais bela de todas. A minha artista; com suas pernas quem mal conseguem manter-se em pé, seus olhos profundos, seus sorrisos, onde dois discretos dentinhos já dão sinais de aparecimento.
Ela que chegou miúda e frágil como os bibelôs e em pouco tempo tornou-se a dona do território, fazendo de todos seus servos voluntários. Tornou-se a verdadeira dona da casa, a dona de tudo, inclusive a minha dona, a minha Maria Luíza.