segunda-feira, setembro 19, 2005

O mineirinho


Prometo nunca mais duvidar de você, mesmo quando se tratar daquelas mentiras que basta um olhar superficial para dessecá-las. Mas eu esqueci que você não mente, você conta a história de outra maneira.
Quando você disse que voltaria eu desconfiei, fiz aquele ar de pouco crédito, mas você ratificou e ratificou tantas vezes que, agora, vendo você parado na minha frente me faz pensar em querer largar tudo isso aqui, as poucas coisas que eu posso realmente dizer que são minhas, coisinhas, pequenos objetos do meu mundo engavetado e me lançar na vida com você.
Meu garoto mineiro de sotaque manso a atitudes impensadas que me arrastou pelos corredores e me convidou para ser louca ao lado dele, que me convidou para tomar assento nos seus sonhos curtos, doces e recheados de prazeres anônimos, nas suas palavras proferidas sem pensar nas conseqüências, soltas no impulso do momento, e que me chama para torcer o nariz para as responsabilidades do dia-a-dia.
Você que cortou minha garganta quando partiu, mas que jurou voltar nem, que fosse para dizer adeus novamente, e, eu cética não acreditei, só que depois de levar uma rasteira do bom senso e das previsões, prometo nunca mais duvidar de uma única frase sua, nem temer os abismos pelos quais você me convida a pular.
Você com seus cabelos de fios dourados e sempre desgrenhados, sua barba eternamente por fazer, seu jeito boêmio de moleque malandro que leva todo mundo no papo, essa sua conversa mole tão gostosa de ouvir, esse seu ar de dono da rua, dono do mundo e para quem o mundo ainda não aprendeu a botar cabresto. Essa mania de invadir as pessoas e fazer do coração delas sua morada oficial, porém temporária, mania de levar a vida na farra. E ai daquele que tentar segurá-lo pelas costas!
Você que me ensina a bambolear a vida, a não me preocupar com as tempestades e cerrar as retinas para os problemas menores. Você, meu menino mineiro malandro que finge ser meu e que sabe que eu finjo ser sua. Você que me faz tão bem e me ensina a levar a vida assim, nas coxas, na graça, no talo, sem complicações. Você meu menino vadio que não quer crescer. E para ser sincera quem disse que eu também quero?