domingo, dezembro 25, 2005

Os alquimistas estão chegando


Ah os tempos modernos e suas complicadas relações! Como está difícil amar hoje em dia, estamos sempre colocando eufemismos para que os relacionamentos consigam durar pelo menos alguns meses de forma saudável.
Tudo se tornou muito frágil e relativo a ponto de termos sempre que refletir sobre aquilo que vamos dizer, assim como um termômetro que mede o estado febril. Por que não a palavra crua, porém sincera? Por que as mulheres até hoje, mesmo com todo o espaço que conseguimos, ainda preferem o papel de coitadinhas? Por que esperar tanto do outro, criar tantas expectativas se muitas vezes nós mesmos não conseguimos suprir aquilo que o outro pede? E não me refiro apenas as relações amorosas, já que até as amizades se tornaram complicadas.
Hoje conhecemos sem ver, sentimos sem tocar, nos apaixonamos sem conviver, é o virtual ocupando o espaço do real. E curiosamente são esses tipos de ligações que estão durando mais, talvez porque eles não precisem passar pela prova de fogo chamada cotidiano, talvez porque nela sempre nos descrevemos além daquilo que realmente somos e não falo de aparência, falo de personalidade.
Afinal quando somos nós mesmo? Quem afinal consegue externar aquilo que é ao invés de ficar criando personagens para serem aceitos e admirados pelos outros? Tudo é uma cobrança excessiva para que estejamos sempre em foco, enturmados, agitando... a tal ponto que querer ficar um pouco em silêncio ou sozinho virou sinal de doença, de dificuldades de se relacionar socialmente ou mais grave ainda, um prenúncio de que a vida está passando e quem não badalar junto a esse relógio perderá a sua melhor partida. Eu sempre gostei de silêncio, de ficar só comigo e meus pensamento, eu preciso disso para poder refletir, indagar, questionar e para muitos isso é algo assustador.
A velocidade com que tudo se transforma tornou o mundo mais fulgás. Relacionamentos terminam por um nada, por um simples trocar de letra, por uma palavra dita sem pensar. Nos tornamos mais egoístas, mais frios, sempre com muita pressa, sempre achando que sofremos demais, sempre buscando demais, sempre querendo coisas que às vezes nem sabemos para que serve. Lembro do minha avó dizendo que sentia falta do tempo em que ficava sentada na frente de casa e as pessoas que passavam na rua, conhecidas ou não, cumprimentavam uns aos outros. Não existia tanto medo de se relacionar, ou mesmo de dizer bom dia. Parece que as pessoas daquele tempo eram mais bem humoradas que as de hoje, mais leves, menos endurecidas e bem menos isoladas umas das outras.
Às vezes acho que estou perdida no tempo, que nasci na época errada. Meus valores e idéias muitas vezes não condizem com o mundo a minha volta, minhas concepções sobre amor, vida, amizade são considerados "ultrapassados" ou, como ouvi dizer alguns dias atrás, pequenos. Mas, tem nada não. Pelo menos eu sei como se diz "eu te amo", enquanto muitos estão procurando restos de paixões em lixeiras para tentar colocar um pouco de tinta nos seus dias cinzas e sobreviverem nesse planeta sufocante.